“Menina, o que você vai fazer no Irã?”. Neste post eu tento responder.

Fui em março de 2019. Neste roteiro, optei por uma excursão, tanto porque iria sozinha como pelo fato de que nunca tinha estado em um país muçulmano. Rodamos o país de ônibus.

Bom, esta viagem exige preparação. É necessário providenciar o visto e ter alguns cuidados relativos às vestimentas (aqui especialmente para as mulheres), que devem incluir o véu e roupas que não mostrem o corpo nem deixem evidenciadas a sua forma.

A minha curiosidade com este país era enorme, pelo que me chegava através da mídia, pela história, pela cultura, pela arquitetura e também por entrar em contato com o cotidiano de mulheres que, possivelmente, tinham como grande diferencial, em relação a mim, o lugar do nascimento. Um detalhe que mudava tudo.

Não imaginava que iria sentir constrangimento pelo uso do véu, afinal tinha sido uma escolha minha visitar o país, não é mesmo? Só que, quando o piloto, antes do pouso, explica que a partir daquele momento, em função de estarmos nos aproximando do território iraniano, as mulheres deveriam colocar o véu, estranhamente me incomodou MUITO. Enfim, contrariada, depois de uns minutos de rebeldia, vesti o véu.

Ao chegar no aeroporto, algo me pareceu muito diferente do que eu imaginava. Não havia policiais, não havia revistas e foi necessário que o guia procurasse por alguém que deveria olhar nosso visto. Isso definitivamente não condizia com o forte esquema de segurança que eu imaginava encontrar. Durante todo o tempo que estive no país, a sensação foi a mesma do aeroporto. Das poucas vezes que encontramos policiais, eles estavam focados em verificar a adequação da vestimenta das mulheres, por exemplo. Era a polícia dos bons costumes.

A primeira cidade que visitamos foi Shiraz. Sim, o nome vem da uva Shiraz, cultivada lá. No entanto, o consumo de bebidas alcoólicas é proibido no país. E sim, isso se estende aos turistas. Ok, eu entendo que esta frase fez algumas pessoas desititirem desta viagem. Entendo mesmo… rsrsrs.

No hotel, a academia e a piscina são frequentados por homens de mulheres em horários diferentes, de acordo com uma escala de horário. Do mais, percebi que ao entrar nos elevadores, se eu estivesse sozinha e entrasse com um homem também sozinho, havia uma preocupação dele não dirigir o olhar a mim e, obviamente, também não falava comigo. Alguns nem respondiam o meu “bom dia”. Na verdade, descobri depois que o ideal era essa situação, de uma mulher entrar em um elevador que já estivesse ocupada por um ou mais homens, não ocorresse, mas em geral as turistas, incluindo eu, pareciam não se atentar ou não respeitar esta etiqueta social local.

Do mais, é um povo amistoso, que fala longamente da história persa de seu país e que gosta de oferecer fartos banquetes aos seus convidados. Comer é também um ato coletivo. Os pratos são divididos entre todos que estão à mesa, enquanto explicam o quanto o ato de compartilhar é um elemento importante na cultura deles. A comida é bastante saborosa!

Ficamos 3 dias em Shiraz. Desde o primeiro dia, a arquitetura deslumbrante dos tetos de suas mesquitas, palácios e monumentos do país me impressionou muito. O chão e as paredes não são o ponto alto, mas o teto, devido ao sentido religioso que lhes são atribuídos, são arrebatadores.

Também de Shiraz saímos para conhecer Persépolis e ouvir sobre a origem persa do país, da qual tanto se orgulham. Bastante impressionante. Não dá para não se emocionar de estar diante de um local com tamanha relevância histórica.

No dia seguinte deixamos Shiraz rumo a Yazd. Não antes de proferir, desta vez com sentido literal, a célebre “vou-me embora para Pasárgada”.

Chegamos em Yazd a tempo de curtir o por do sol. Depois saímos para jantar e caminhar pela cidade, o que é bastante tranquilo de se fazer.

A esta altura, em Yazd, já tínhamos percebido que nossos véus coloridos geravam muita curiosidade e comentários entre as iranianas. Inicialmente pensamos que era porque eram diferentes, mas depois entendemos que as cores tem significado muito particular para eles. A religiosidade é também avaliada em função das cores das vestimentas. Quanto mais escura a vestimenta, melhor. Com o tempo percebemos que as roupas eram preta, cinza e marrom. Raramente se via outras cores. Nas mulheres, vestes coloridas tinham sentido de “prostituição”. Por isso chamávamos atenção.

De Yazd, paramos em Nain, a cidade de barro e de tapetes.

De Nain, partimos para Isfahan, onde dormiríamos pelos próximos 3 dias. Uma cidade linda demais.

Por fim, saímos de Isfahan, com destino a Kashan.

Depois desta parada em Kashan, seguimos viagem para Teerã. Enquanto estávamos na cidade, houve algum incidente envolvendo EUA e Irã. Nada muito sério, mas algo que já nos fez ligar o alerta. Neste dia, com EUA referindo a possibilidade de “subir o tom”, pudemos sentir um pouco do que provavelmente a população iraniana viva. Para nós, era questão de dias para deixarmos para traz este conflito. Para eles, não é uma opção. Um passaporte iraniano, em si mesmo, já encerra as possibilidades, ainda que desejada.

Vim embora muito pensativa e, sem dúvida, nunca esquecerei o clima desértico, a arquitetura, a comida, os costumes e as pessoas que conheci mais de perto.


Deixe um comentário